sábado, 18 de outubro de 2014

Por quê (não) se formam Chefs em cursos de Gastronomia?



Toda vez que tenho oportunidade de dar aula para o primeiro semestre do curso de Gastronomia, pergunto aos alunos por quê escolheram este curso. Independente das fantasias, sonhos e desejos de cada um (que são válidos, claro), SEMPRE a resposta está relacionada a algum vínculo afetivo familiar.

Por outro lado, ao longo dos quatro semestres que se seguem o curso (ou mais, dependendo da instituição), o conteúdo programático desenvolvido refere-se a técnicas de preparo de diversos ingredientes, regionalidades gastronômicas, nutrição, gestão... mas nunca se aborda os vínculos afetivos e as motivações internas dos alunos.

Lógico, não é possível tornar-se um grande Chef sem saber cozinhar, no mínimo, bem. Da mesma forma que as pesquisas relacionadas a carreira de Chefs – que destaca características de liderança e empreendedorismo como pontos chaves de personalidade para seu desenvolvimento profissional - não explicita que dominar as técnicas de preparo de alimentos seja um pré- requisito. Competência técnica e comportamental tem sua importância sim.

Porém, o que se observou ao longo de todo este período desde o crescimento dos cursos de Gastronomia é que um número muito reduzido de egressos conseguiram se integrar ao mercado de trabalho. E esse sim, é um fato que precisa ser analisado além da postura comercial de diplomas, do glamour dos uniformes e da ostentação de utensílios de griffe.

São justamente as estruturas internas (motivação e afetos) que precisam ser fortalecidas para que os alunos, quando se relacionarem com a realidade do mercado profissional, possam não só ingressar, mas também permanecer e principalmente, poderem desenvolver-se.

Enquanto profissionais qualificados para oferecer este suporte psicológico aos alunos não forem envolvidos ao longo do processo de formação acadêmica, é provável que os índices de desistência permaneçam inalterados.